Foi a minha psicóloga quem me deu. Psicóloga que resolvi procurar depois que a ficha caiu. Depois que perdi você. (...)
Era uma pedra bonita, roxa. “A pedra do luto”. Foi assim que ela falou quando me entregou. E a pedra do luto se tornou a minha melhor amiga. Minha companheira. Para onde ia, ela ia comigo. Acampar, trabalhar... não saía da bolsa. E quando estava em casa, dormindo, ficava embaixo do travesseiro. Se acordasse no meio da noite, os dedos procuravam-na freneticamente. E quando a encontravam, enfim, relaxavam. Só assim, em meio aquela escuridão, eu me sentia segura, tranqüila. Afinal, a pedra estava lá.
Um talismã? Um amuleto? Na verdade só um motivo para lembrar que eu podia ficar triste. Que havia permissão. Afinal terminar um relacionamento tão longo e enraizado não é tão fácil assim. Não se esquece ninguém do dia para noite. Nem substituindo. Nem tentando substituir. Substituição, só no esporte! E olha lá.
E assim, fui criando um relacionamento, uma intimidade com a tal pedra.
Nossos laços foram crescendo, se ampliando tanto, que comecei a sentir ciúmes dela.
As pessoas me perguntavam o que era aquilo que sempre segurava, que não saía da minha mão. E eu, de boca cheia, (pois sentia muito orgulho dela) falava: é a minha pedra do luto! E contava toda a história. Perdi a conta quantas vezes tive que narrar o porquê da pedra. O curioso, é que, a maioria das pessoas, queria segurar a minha pedra. Queria tê-la um pouco. Queria a tal permissão para suas tristezas, melancolias, perdas! Perdas das mais variadas. Perda física, emocional... Então, passei a dividi-la. Dividir a pedra com os mais diversos lutos.
No começo até gostava, afinal eu também estava colaborando. Ajudando. Emprestando meu apoio. Mas depois, comecei a deixá-la mais escondida. Só a pegava quando estávamos sozinhas. Eu e ela. E, de certa forma, você.