sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Blanco

“Me vejo no que vejo
Como entrar por meus olhos
Em um olho mais límpido
Me olha o que eu olho
É minha criação
Isto que vejo
Perceber é conceber
Águas de pensamentos”

Sou a criatura do que vejo
(Marisa Monte)

terça-feira, 28 de agosto de 2007

A Neve

Triste. Triste como neve em montanha. Branca. Fria. Solitária. Distante.
Tenho chorado. Não muito. Um pouco só. O suficiente.
Suficiente para lembrar e me autoflagelar de novo. E mais uma vez. E outra. E mais outra.
Faço isso. Condeno-me. Torturo-me, com lembranças, cartas, e-mails, presentes, cheiros.
E abro guarda para você fazer o mesmo. Pisar em mim. Cuspir. Escarrar.
Que prazer é esse? O seu até é justificado. Ver o outro que nos largou, sofrendo por causa da gente, deve dar uma sensação realmente fantástica. De poder de volta. De vingança.
Agora, por que me rendo a isso? Por que me permito ficar assim? Por que busco essa dor inconsolável?
Dor, que de tão fria, queima. E minha dor é assim. De um branco azulado. Sem vida, sem sol, sem energia. Apática. Passiva. Cabisbaixa. Cambaleante. Que oscila: ora derrete, ora congela novamente.

sábado, 25 de agosto de 2007

Vida Nova

"Tempus est ut pretermictantur simulacra nostra"
Dante - Vida Nova

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Davi

Era uma vez uma menininha muito feliz. Todos gostavam de estar ao seu lado, pois sua alegria era tão intensa que contagiava a todos que a cercavam. Certa vez, essa menina conheceu um garoto por quem ficou encantada. Todos os dias ela passava pelos menos caminhos que ela sabia que ele teria passado e começou até a freqüentar os mesmos lugares que ele, só para poder vê-lo. Ele era um garoto problemático... mas ela se encantou com o jeito do garoto falar da sua vida, de contar seus problemas... e, aos poucos, ela se viu completamente apaixonada por ele (e pelas suas fraquezas). Queria de qualquer forma ajudá-lo. Como todos a achavam uma menina feliz, ela se viu como em uma missão: fazer do garoto triste um garoto feliz. E isso ela faria com muito amor. Todo o que ela tinha. (..)
Os dias em que se encontrava com ele pareciam semanas. Eram tão cheios de histórias, desastres, pesadelos contados pelo mesmo que ela chegava a sofrer por ele. Já os dias em que não o via, pareciam meses. Tamanha solidão era estar longe do garoto. Então, apaixonada e decidida a ajudá-lo, ela queria namorá-lo para poder mostrar a ele que a vida não era tão complicada assim. Que todos sofrem e que sempre depois da tempestade nasce o arco-íris. (...) Mas, não. O menino se dizia problemático demais para namorar como um garoto comum. Ele não era como os outros garotos da sua idade que ficavam jogando vídeo-game e navegando na Internet. Ele se dizia um garoto com "sérios problemas".
Cansada de tentar, a menina desistiu. Foi vivendo a sua vida até que um dia, o mesmo garoto surge do nada e diz que havia melhorado da sua tristeza e depois de muito mesmo pensar resolvera namorá-la. Meio atordoada com o impacto da notícia e ao mesmo tempo muito feliz, a menina não pensou duas vezes: pegou uma faca bem afiada e cravou em seu peito fazendo força para remover seu próprio coração. Com as mãos cheias de sangue e um sorriso estampado no rosto, a menina ofereceu todo o seu coração ao seu grande amor. Assustado com a atitude, o menino virou as costas e saiu correndo deixando-a tombar com o coração na mão.
A menina, que tinha tanto amor para dar morreu e o menino ainda sofre de pesadelos ao se lembrar daquela cena.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Marta

A vontade é de gritar. Gritar bem alto pro mundo todo ouvir minha indignação. Minha revolta ou, talvez, o meu desdém. Estou passada. E o sono?!?... Muito sono. É fuga! Vontade de dormir e esquecer tudo o que aconteceu. Tudo o que eu vi. Ela caindo na minha frente e aqueles idiotas a abanando como se ela fosse acordar a qualquer instante. IDIOTAS! Ela morreu e ninguém se tocou. Ninguém percebeu. Eu vi que ela não estava mais respirando, tirei o pulso. Nada. Estava tudo parado. Naquele instante o mundo parou (...) 10 segundo eram 10 minutos e os cinco minutos que esperamos a ambulância chegar, duraram horas. Eu não acreditava. Na verdade, na hora em que ela caiu na minha frente, fiquei com ódio. Com raiva, vergonha. Puta! Que bosta! Acabamos de chegar e a outra vai dar bafão! Foi o que eu realmente pensei. Achei que ela tivesse caído, tropeçado e para disfarçar tivesse fingido que desmaiara. Mas daí ela não acordava. Ela deve ter ficado com muita vergonha! Tanta vergonha, que preferiu morrer mesmo do que voltar naquele lugar horrível, cheio de gente suando, dançando, dançando, tentando esquecer dos seus problemas pessoais. Primeiro ela só desmaiou. De vergonha por ter caído. Depois ela morreu... de vergonha de estar viva! Vergonha! Pois o que ela passava não era vida. Era um tormento. E ela disfarçava tão bem. Ela sim era uma verdadeira artista. Fingia estar bem quando não tinha o que dar de comer pro filho. Só macarrão! Ela falava. Não agüento mais macarrão! E dançava. E sobrevivia da forma que podia. Tentando viver. Tava ficando roxo o pescoço, o peito, a canela... E o povo abanando...Não tive muita ação. Liguei pro meu irmão pra perguntar o que fazer. Ele podia ter me dito: enterrar! Mas não, disse que era para fazer a massagem cardíaca, ou seja lá qual é o nome que isso deve ter. Quem faz medicina é ele e no momento eu entendi o recado. Falei para eles colocarem ela no chão, cabeça para trás, 15 apertos no peito (lentamente) e 2 sopros (aquela história de salva-vidas bonitão beijando a mocinha que se afogou na praia). Mas ali, o caso era diferente. Um cara apertava o peito dela, eu contava e assoprava. Quando a ambulância chegou, ela já estava roxa. Eu sabia que não havia mais volta. Mas mesmo assim eu menti. Todo mundo veio me perguntar como ela estava e eu disse que ela iria ficar bem. Menti! Achei melhor. Eu não queria dar a notícia. Os para-médicos se entreolharam e ligaram para o médico. Eles não fizeram nada. Nada!!! Só ligaram pro médico vir confirmar que ela havia morrido. Colocaram ela na ambulância. Enquanto isso, todo mundo ficou em volta, chorando, torcendo para ela melhorar. (Melhorar o quê?) Até eu cheguei a pensar que ela pudesse voltar a viver. Sei lá. Acho que estava esperando um milagre. Apesar de eu não acreditar muito nisso! Eu estava como ela. Fria. Uma pedra de gelo, de tão séria e fria. Quando o médico deu a notícia, mais friamente que minhas ações, todo mundo começou a chorar aquele choro desesperador de quem ficou histérico de repente. Eu não. Algumas lágrimas rolaram, mas eu não podia chorar. Tinha que fazer muitas coisas. Consolar quem estava chorando, por exemplo. Conversei com o médico de igual para igual. Na mesma frieza e intocabilidade. Mas, morreu do que? Eu perguntei. E ele respondeu: Morreu. Ela morreu. Não dá pra saber do que. Do coração deve ser. Morreu. Só morreu. Essa frase dele foi demais. Só morreu. E eu ficava olhando para ele pensando. Só morreu? Mas, nem mais uma coisinha? Normal, para a vida dele. Mas para a minha, não. Quero ver ele dar a notícia para mulher que o seu próprio filho, “só morreu”. Falou desse jeito porque não era com ele. Não conhecia. Mas um pouquinho mais de tato não faria mal. Todo mundo ficou indignado com ele. Foi uma gritaria, choradeira. Todo mundo berrando. Não! A Marta não! Ai meu Deus por que você fez isso? Justo com a Marta! Não! E eu só fiquei olhando. Não participei do barulho. Achei que era sonho e que dentro de alguns minutos eu iria acordar. Mas eu não acordei. Fui dirigindo até a Acesf. Tentando acalmar as outras amigas, falando coisas bonitas, coisas de Deus. Mas no fundo, naquele momento eu nem acreditava mais em Deus. Eu não sabia mais. Estava muito confusa. Estava fazendo igual à Marta. Atuando...

domingo, 19 de agosto de 2007

para começar...

Simples, como “quase” tudo na vida, (a gente que complica), fazer um blog, também é assim. Relutei, tentei, hesitei e quando menos esperava: já havia feito um.

E como tudo o que começa tem um fim, já inicio pensando no seu desfecho (ah... essas sofredoras compulsivas!)

Triste. Mas real. Como também “quase” tudo na vida.

A música... bom, ela não saía da cabeça. Fui o-bri-ga-da a colocá-la.

“Pra começar
Dizer que o amor chegou ao fim
Esqueça de me perguntar
Se ainda há amor em mim

Pra te enganar
escondo num sorriso a dor
Que sinto ao te ver passar
Na rua com seu novo amor

Se eu te encontrar
Não me pergunte como eu tô
Não saberia te explicar
Pra mim ainda não terminou

Pra terminar
Dizer que o amor chegou ao fim
Esqueça de me perguntar
Se ainda há amor em mim”